Esse é o grande defeito em
estar vivo.
Não é por que os nossos sonhos estão mortos, ou por que a mídia nos obriga a engolir tudo de ruim que conseguem produzir, não é pela novela das 9, pelo Big Brother depois da novela, pelo Luan Santana no Domingão do Faustão, não é pelos corpos semi nus de mulheres sendo explorados em programas dominicais que deveriam ser programas de humor e não ponto de encontro de adolescentes excitados, que ficam se digladiando tentando definir qual daquelas mulheres ali estampadas, tal qual um produto em liquidação, é a que mais lhe apetece.
Não é pelas guerras que fabricamos cada vez que nossos dentes afiados de estar vivos encostam no pão com gergilim de um Mac lanche feliz. Não é pelo sorriso macabro de Ronald McDonald brincando com crianças que não sabem exatamente o que estão fazendo em uma propaganda programada a propagar. Não é por que a religião nos dominou por séculos, e tampouco, por que aos olhos desse Deus católico( Não meu Deus, graças a Deus) somos todos pecadores, e condenados ao inferno.
Não é por nada disso, não. Não é por nada. É por nós mesmos, é por permitirmos que tudo isso nos conduza por ruelas de inconsciência coletiva, é presentear nosso silêncio, quando deveríamos impor nossa revolta. O Grande defeito em estar vivo, é que não estamos realmente vivos. O grande defeito em estar vivo é pensar que estar vivo se limita a respirar. Há homens que não respiram há tanto e tanto tempo, e estão muito mais vivos que todos nós, mas não é por nada disso. Não é por nada, não.
Nicolás Gonçalves
Publicado na Coluna Gente Fronteiriça do jornal Fronteira Meridional no dia 03/11/2011
Um comentário:
Cronicaça para mais de metro, não fica nada a dever aquelas que se encontram nos melhores jornais do país. Olha, dá um banho em muita gente que se diz boa na mídia!
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