Foto Alencar Porto |
“A Música é a minha Vida e a minha Vida é a
Música” *
Juliana Nunes
Osvaldo Emílio Medeiros de nascimento,
conhecido por todos como Mestre Vado. Nasceu aqui mesmo, em Jaguarão, e passou
toda ou pelo menos boa parte da sua vida numa casa verde, cheia de música, que
exalava música de suas paredes, situada ali, na Rua do Cordão.
Disse-me Vado uma vez que tinha por mãe uma
mulher chamada Joaquina Medeiros e que era filha de português com africana e
por pai Roberto Madeiros, brasileiro, mas com sangue castelhano e acrescentou: “deve ser por isso que sou tão sentimental.”
Com seu modo simples de vida, Vado costumava
ensaiar com seu saxofone todos os dias, de maneira religiosa, para não perder a
embocadura. Os primeiros ensinamentos musicais começaram aos doze anos de idade,
em casa mesmo, com o pai, que era músico e sapateiro; Vado tentou seguir os
passos do pai nesta última profissão, porém desistiu pelo amor à música.
Ainda nesse mesmo perído, Vado foi estudar
música com o mestre baiano Euclides, que estivera de passagem por Jaguarão, e com
o qual aprendeu os fundamentos principais do estudo na área da música, como
solfejo entoado “sem prestar instrumentos”.
E fez questão de dizer que nunca havia estudado em conservatório!
Aos treze anos já tocava um pouco e dessa
forma foi convidado por Theodoro Rodrigues – um dos fundadores do Clube Social
24 de Agosto – para sair no Cordão Carnavalesco União da Classe e tamanha foi a
alegria de Vado ao saber que ele, um guri de calça curta, iria tocar no Cordão
do 24: “o Teodoro veio falar com meu
pai para sair no Cordão do 24, eu estava até jogando bola ali, de calça curta,
quando vieram me chamar, ah! pulei de contente por sair no Cordão do 24, e todo
mundo ia ver o cordão do 24 que tinha um guri que tocava.”
Sua folia juvenil começava nos salões do
Clube 24 de Agosto, onde, portanto, iniciou sua carreira musical propriamente
dita. Mas tocou também no Cordão do Eponino, em Río Branco nas cordas de sopro
do candombe, tocava tango em clubes daqui, nos clubes do lado de lá, fez parte
do conjunto Os Rainha e como ele mesmo disse: “tocava tango, milonga, e
toquei em diversos lugares, toquei em igrejas, hospital, e muitas vezes em
enterro, e enterro era praxe, morria um conhecido ia tocar.”
Seu conhecimento musical ia além do cancioneiro
popular de ambos os países, tanto Brasil, como Uruguai, tocava pequenas peças
clássicas; porém ao prolongar da nossa conversa, Vado se revelou um eterno chorão, gostava mesmo era de um “Carinhoso”
bem chorado, sendo esse gênero musical tema de suas composições.
Mestre Vado trazia consigo, além de toda a
sua vivência, a memória da sua mãe e da sua avó, ex-escrava radicada na mesma
Rua do Cordão, a qual contava dos antigos enterros africanos que aconteciam nas
redondezas e o início dos cultos umbandistas em Jaguarão: eram os cordões
funerários da mão dada. Lembrou-se ainda do tempo em que se dançava
bumba-meu-boi em Jaguarão, do Manoel Catarina fantasiado de mulher, brincando e
folgando numa tradição trazida de
outras regiões. Disse-me da violência do entrudo e de como se jogava água de
balde nas noites de folia carnavalesca.
Osvaldo Emílio Medeiros – Mestre Vado -
sempre será nosso grande Mestre que ensinou tantos outros músicos e sempre
estará vivo, caminhando com seu passinho devagar, atravessando a rua para ir à
missa na igreja da Minervina, descendo a rua da praia para rever um antigo
amigo, trocar experiências musicais ou simplesmente para tomar um café.
A grandeza do Mestre Vado, tanto a musical,
como a pessoal, ficará incrustada nas pedras de cada rua, nos salões dos clubes
onde não podia dançar, mas onde se permitia o “choro” do seu piston, nas
lembranças dos velhos amigos, dos jovens que o admirava, nos carnavais que
embalou, nas avenidas por onde desfilou. Ficará na memória, na história e
principalmente, ficará para sempre na música.
Viva o Mestre Vado! Viva a Música Popular!
*Texto feito a partir de uma entrevista
concedida por Mestre Vado em julho de 2008.
A simplicidade era a marca do Mestre - foto Juliana Nunes |
5 comentários:
Será que não daria para inserir um áudio do "chorão"? Existe uma faixa de Mestre Vado tocando numa gravação editada pela Prefeitura ou no primeiro CD do "Canto do Jaguar".
Creio que assim se completaria essa bela homenagem.
Vamos providenciar meu caro amigo José Alberto!
Existe um cd que o Mestre Vado gravou, mas foram poucas cópias, era lindo se desse para encontrar esse cd dele!
OI, JASouza
De pleno acordo com seu pensamento de liberar o som do sax-tenor do mestre Vado para que possamos conhecer seus fraseados e sonoridade.
GREIS
Pessoal, presente do amigo José Alberto de Souza, choro Pachola com mestre Vado. Confiram aqui:
http://confrariadospoetasdejaguarao.blogspot.com/2011/12/o-choro-do-mestre-vado.html
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