Quando pensamos na história das cidades e das grandes civilizações, sempre vem à nossa mente nomes de homens que se destacaram dentre tantos outros membros que compõem determinada sociedade. Uma história dos grandes feitos e dos grandes homens.
Em Jaguarão não foi diferente. Sempre nos lembramos do Dr. Alcides Marques, Odilo Gonçalves, Barbosa Neto, Carlos Barboza, dentre outras personalidades. Geralmente os nomes que se costuma perpetuar nos anais da história de um povo são membros das elites dominantes, ou seja, homens influentes, tanto no campo político, como nos campos econômicos e intelectuais. Essa, portanto, seria uma história “vista de cima”, a partir dos grupos dominantes.
Entretanto, a história também foi feita por outras classes sociais e aos poucos, foi-se dando destaque para esses “excluídos”, como os negros, as mulheres, as classes operárias, etc. Em nossa cidade também existe ilustres desconhecidos, aqui darei destaque a figura de Theodoro Rodrigues.
Esse homem nasceu em Jaguarão no ano de 1899, na Capela São Luís, no dia 9 de novembro e era filho de Virgínia Rodrigues. Sua paternidade até o momento não se pôde identificar e a partir disso já se pode deduzir que se tratava de um negro saído da escravidão, filho de mãe solteira.
Foi músico da fanfarra do 3º Regimento de Cavalaria General Osório, ingressando nas forças armadas no ano de 1933; três anos mais tarde foi transferido para Porto Alegre, onde também exerceu a profissão de mecânico.
Lendo a história de Rodrigues, poderíamos considerá-lo como mais um homem simples, dedicado ao seu ofício e que primava pelo seu aperfeiçoamento para vencer as adversidades da vida. No entanto Theodoro Rodrigues teve participação ativa nos meios sociais jaguarenses. No campo do esporte, foi sócio fundador do Jaguarão Esporte Clube, foi também sócio fundador da Sociedade Operária Jaguarense, hoje Círculo Operário Jaguarense, sendo por várias ocasiões presidente desta instituição e grande incentivador da formação de uma banda de música para os operários.
E seu grande destaque nos meios sociais jaguarenses, foi a fundação, em agosto de 1918, do Clube Social 24 de Agosto e do cordão carnavalesco dessa instituição, “União da Classe”. Esse talvez tenha sido um dos grandes legados de Theodoro Rodrigues, que, cansado de sentir a discriminação por conta de sua cor de pele e de ver a exclusão de seus companheiros negros, resolveu unir esforços e fundar essa tradicional agremiação. Há que se destacar ainda, que Theodoro pertenceu a Irmandade de Nossa Senhora do Rosário na qual participou como festeiro ou juiz de devoção.
Homens como Theodoro Rodrigues devem ser cada vez mais vistos e lembrados; um cidadão simples, mas que deixou grandes contribuições para a sociedade jaguarense e para a comunidade negra local.
Juliana Nunes
Texto publicado no Jornal Fronteira Meridional, edição do dia 21 de abril de 2011.
Um comentário:
Parabéns Juliana por nos brindar com tão bela passagem de um, dentre milhares de negros que fizeram e fazem a história deste torrão amado dando o próprio sangue em defesa destes pagos, tal qual na Guerra dos Farrapos.
Eles lutaram bravamente em defesa deste chão e foram assassinados covardemente pelo conluio da força, a qual defendiam com o opositor - OS LANÇEIROS NEGROS.
O sangue deles não foi em vão, pois ainda são ouvidos os seus gemidos pelos seus descendentes, quiçá! eu e tantos mais, continuamos nas trincheiras em busca de LIBERDADE, IGUALDADE, FRATERNIDADE E HUMANIDADE.
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