terça-feira, 9 de agosto de 2011

Like a Rolling Stone


Arte: Laura. Exposição de Oficina de Arte terapia do Capes na Casa de cultura 


Eu gosto muito de Rock’n’roll, de verdade. Mas tenho um problema, me falta uma certa atitude Rock’n’roll, um certo porralouquismo( como diria o Cazuza). Não sei ao certo, é algo que me afasta e ao mesmo tempo me aproxima desse som. É muito mais fácil ver o Chico Buarque (mestre dos mestres) ali sentado com um copo de whisky ao seu lado no chão, com um violão dedilhando os acordes que sua boca sussurra e pensar, eu ao menos posso fingir que faço o mesmo.

Ou ainda ouvir Oswaldo Montenegro cantando metade e achar que aquilo fala de você, e de todos os você que algum dia você já foi. Deixar o bigode crescer e tentar não desafinar imitando o Belchior, aquele rapaz latino americano sem dinheiro no banco, sem parentes importantes e que veio lá do sertão.

Mas e como imitar o Ozzy Osborne? Tudo bem que na maioria das vezes ele não arrancava a cabeça de morcegos de verdade, mas teve uma vez, e isso faz dele rock’n’roll, essa única vez, que ele mordeu e arrancou a cabeça de um morcego de verdade. Como me sentir meio Jimi Hendrix se cada vez que algo pega fogo eu fico apavorado e pensando em mil maneiras de diminuir as chamas? O Keith Richards até de sangue já trocou, e, além disso, cheirou as cinzas do próprio pai. Louco demais, ou melhor, Rock’n’roll demais.

Voltando ao Belchior, o cara lá em cima sem grana e de bigode, meu mal tem tudo pra ser geográfico. Por força do meu destino de Sul Americano, filho dessa terra fronteiriça( Fronteiras humanas), prefiro o tango argentino, não que me atreva a dançar tango, mas prefiro isso do que as cabeças do morcego, as cinzas do pai, ou ficar tocando fogo nas coisas. Talvez eu seja apegado demais, careta demais, certinho demais. Ou talvez simplesmente, talvez, eu seja o que me restou pra ser, sem muitas escolhas, pensando bem eu tenho até medo de morcego. Ou vai ver sou só um chato, muito jovem pra morrer e velho demais pro Rock’n’roll. 

Nicolás Gonçalves

Texto publicado na Coluna Gente Fronteiriça do jornal Fronteira Meridional do dia 03/08/2011

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