“Com
fé no companheiro ao lado lutamos por ti, Guarânia-Guarani.
Nas
asas de um bom chimarrão,/ a noite - graúna - desceu...”
(Taiguara
– Canções
de Amor e Liberdade).
A
presidência rotativa, ou pro
tempore,
do Mercosul Cultural passará a ser uruguaia no segundo semestre de
2011; assim como o foi do Paraguai no primeiro semestre deste mesmo
ano. São notícias embaciadas pelo grande volume de informações
que procedem de outros setores. A marcha lerdaça do viés cultural
contrasta com o andar fagueiro e lépido da diplomacia comercial, por
exemplo. O Mercosul Cultural foi criado em 1996, em Fortaleza, há
quinze anos!
O
fato é que, tanto o tango argentino quanto a guarânia me vão bem
melhor que o blues.
No entanto, a pobre música guaranítica reclama até hoje a
resistência invocada pelo poeta ímpar que foi Taiguara. Será que
dita resistência é coisa de atores não-governamentais? De um Nei
Lisboa, que, embaixador cultural ad
hoc,
toma a iniciativa de trazer ao público no Brasil o Candombe
para Gardel.
A
França, como se sabe, é pioneira, há mais de um século, na
diplomacia cultural. É, portanto, um bom parâmetro para a discussão
de requisitos em torno de uma política governamental para a cultura.
Uma recente polêmica entre intelectuais franceses merece atenção.
Ela parte da seguinte questão: Existe
uma cultura popular e uma cultura erudita, sendo a primeira objeto
das leis de mercado e a segunda merecedora da ação estatal?
Quanto à pergunta existem dois posicionamentos, de um lado aqueles
que defendem que se pode estabelecer uma hierarquia dentro da
cultura, das artes e das práticas culturais. Assim, haveria uma
cultura das obras primas universais da humanidade, que, por seus
valores, deve ser democratizada. Por outro lado, há os que rejeitam
essa versão hierárquica das coisas, entendendo que não há
mais sentido na distinção entre as culturas popular e
acadêmica. Citam, a favor deste argumento, o fato de que os
grandes artistas sabem da fatalidade do interculturalismo, de tal
forma que a cultura do século XX criou-se como sendo a cultura das
misturas e do "impuro". “Quando Picasso se impregna
das culturas primitivas, quando o jazz nasceu em bordéis ou na rua,
dá-se uma mistura constitutiva do nosso século”, diz Laure Adler.
Por
ora não quero me posicionar em torno desta questão, no entanto,
para mim, é evidente que não são posições que se excluem
necessariamente. Mas a primeira posição é a mais clara quanto ao
papel da ação do poder público. Queremos preservar o samba, a
guarânia, o candombe, o tango, enquanto valores culturais a serem
transmitidos às gerações futuras, e não o pastiche engendrado e difundido nas tevês e que toca a
toda hora nas rádios.
Sérgio
Batista Christino
Texto publicado na Coluna Gente Fronteiriça do Jornal Fronteira Meridional , edição do dia 25 de agosto de 2011
Um comentário:
Comparto plenamente con usted la necesidad de preservar lo que hacemos, sin desmerecer lo ajeno. Sin embargo, parece que lo ajeno se nos quiere imponer como un catecismo omnímodo, y pasamos a ser meros consumidores de un arte que muchas veces carece de calidad y, peor que eso, en nada refleja nuestra esencia como sociedades.
¡Un abrazo, Christino!
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