sexta-feira, 26 de agosto de 2011

Guarânia. Hein, guarânia!!?

   



Com fé no companheiro ao lado lutamos por ti, Guarânia-Guarani.
Nas asas de um bom chimarrão,/ a noite - graúna - desceu...” (Taiguara – Canções de Amor e Liberdade).

A presidência rotativa, ou pro tempore, do Mercosul Cultural passará a ser uruguaia no segundo semestre de 2011; assim como o foi do Paraguai no primeiro semestre deste mesmo ano. São notícias embaciadas pelo grande volume de informações que procedem de outros setores. A marcha lerdaça do viés cultural contrasta com o andar fagueiro e lépido da diplomacia comercial, por exemplo. O Mercosul Cultural foi criado em 1996, em Fortaleza, há quinze anos!

O fato é que, tanto o tango argentino quanto a guarânia me vão bem melhor que o blues. No entanto, a pobre música guaranítica reclama até hoje a resistência invocada pelo poeta ímpar que foi Taiguara. Será que dita resistência é coisa de atores não-governamentais? De um Nei Lisboa, que, embaixador cultural ad hoc, toma a iniciativa de trazer ao público no Brasil o Candombe para Gardel.

A França, como se sabe, é pioneira, há mais de um século, na diplomacia cultural. É, portanto, um bom parâmetro para a discussão de requisitos em torno de uma política governamental para a cultura. Uma recente polêmica entre intelectuais franceses merece atenção. Ela parte da seguinte questão: Existe uma cultura popular e uma cultura erudita, sendo a primeira objeto das leis de mercado e a segunda merecedora da ação estatal? Quanto à pergunta existem dois posicionamentos, de um lado aqueles que defendem que se pode estabelecer uma hierarquia dentro da cultura, das artes e das práticas culturais. Assim, haveria uma cultura das obras primas universais da humanidade, que, por seus valores, deve ser democratizada. Por outro lado, há os que rejeitam essa versão hierárquica das coisas, entendendo que não há mais sentido na distinção entre as culturas popular e acadêmica. Citam, a favor deste argumento, o fato de que os grandes artistas sabem da fatalidade do interculturalismo, de tal forma que a cultura do século XX criou-se como sendo a cultura das misturas e do "impuro". “Quando Picasso se impregna das culturas primitivas, quando o jazz nasceu em bordéis ou na rua, dá-se uma mistura constitutiva do nosso século”, diz Laure Adler.

Por ora não quero me posicionar em torno desta questão, no entanto, para mim, é evidente que não são posições que se excluem necessariamente. Mas a primeira posição é a mais clara quanto ao papel da ação do poder público. Queremos preservar o samba, a guarânia, o candombe, o tango, enquanto valores culturais a serem transmitidos às gerações futuras, e não o pastiche engendrado e difundido nas tevês e  que toca a toda hora nas rádios.

Sérgio Batista Christino 

Texto publicado na Coluna Gente Fronteiriça do Jornal Fronteira Meridional , edição do dia 25 de agosto de 2011

Um comentário:

Darío disse...

Comparto plenamente con usted la necesidad de preservar lo que hacemos, sin desmerecer lo ajeno. Sin embargo, parece que lo ajeno se nos quiere imponer como un catecismo omnímodo, y pasamos a ser meros consumidores de un arte que muchas veces carece de calidad y, peor que eso, en nada refleja nuestra esencia como sociedades.

¡Un abrazo, Christino!

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