Anúncio de fuga de escravo publicado no Jornal Atalaia do Sul/1868 Digitalizado do Cadernos Jaguarenses vol. 2 - IHGJ 1998 |
Todos desconhecem os motivos que levaram o pobre a colocar suas parcas roupas nas costas e sair, desatinado, noite de inverno a fora em busca de seus familiares que há muito havia perdido o contato. Viram-se pela última vez na cidade de Rio Grande, quando a desgraça do destino os separou quase para sempre.
Depois de alguns dias de caminhada, e enfrentando toda a
sorte de riscos, chegou ao seu primeiro destino: a cidade de Candiota. Nesse
lugar Ambrósio cria que estivesse sua família, entretanto o que possuía de
concreto sobre isso eram as últimas palavras de sua mãe: “não se esqueça de mim
meu filho, estaremos pelas bandas de Candiota”. E foram essas palavras que
motivaram a fuga do jovem rapaz.
Sua trajetória poderia passar despercebida, se este jovem
fosse uma pessoa comum, com o direito de ir e vir garantido, e não tivesse sido
arrancado de sua terra natal e de sua família ainda menino e levado à fronteira
jaguarense, para trabalhar sob o regime escravista, numa fazenda. Sobre esse
jovem nada mais se sabe que a quantia que se pedia pela sua captura, os motivos
que o levaram à fuga, o possível paradeiro e, especialmente, sua procura pela
tão sonhada liberdade.
A liberdade almejada por Ambrósio só viria vinte anos mais
tarde, com a abolição da escravidão em 1888. Devemos pensar, entretanto, que a
lei Áurea livra os negros escravos dos açoites da senzala, como diz um antigo
samba da Mangueira, mas os prende a um sistema que os deixou à margem da
sociedade, além de enfrentar o preconceito étnico-racial.
Ambrósio é somente mais um exemplo de como existia a
resistência, por parte dos escravos, ao cativeiro, ao açoite e ao sistema
escravista, composto por grandes senhores. Sua fuga se deu em 1868 e sua figura
é real, fazia parte do plantel de escravos da fazenda de Antônio Machado da
Silva, e a última notícia que se sabe do seu paradeiro, foi quando passou pela
cidade de Candiota, a fim de resgatar sua família e partir para o Estado
Oriental e encontrar a liberdade. A sua fuga e a recompensa por quem
encontrasse o pobre homem de 26 anos foi vinculada no jornal Atalaia do Sul de
1868, editado e publicado em nossa cidade. Espero que Ambrósio tenha conseguido
atravessar a fronteira com sua família e alcançado seus objetivos, por agora só
nos resta imaginar.
Juliana Dos Santos Nunes (historiadora)
Esse artigo foi inspirado em um anúncio de fuga encontrado pela
pesquisadora nos acervos do Instituto Histórico e Geográfico de Jaguarão.
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